domingo, 30 de outubro de 2016

Esporte Olímpico

por Arthur Moura

Já há alguns anos considero concurso público uma atividade análoga aos esportes de alto rendimento. Assim como os atletas de primeira linha treinam visando as Olimpíadas, em um extenuante ciclo quadrienal, transpassado por campeonatos locais e mundiais, também a preparação para se submeter às exigentes provas para os cargos mais disputados da Administração Pública exige disciplina, técnica, e treino, muito treino.

As bancas examinadoras têm aumentado, ano após ano, o nível das provas, impondo desde editais quilométricos até dificuldades quase intransponíveis para interpor recursos em razão de questões controversas e correções incorrigíveis. E não poderia ser diferente. Num universo de quase 23 mil concorrentes, como se viu no último certame para a PGFN, necessário engendrar métodos de avaliação que ajudem a banca a reprovar, muito mais do que a indicar os melhores. Afinal, não seria exagero – ao contrário! – supor que 10% dos candidatos sejam muito bons. Isso significa 2300 postulantes ao cargo de Procurador da Fazenda Nacional. Mas o edital previa apenas 150 vagas! Ora, quem sabe apenas 1% dos concorrentes seja efetivamente brilhante; ainda assim teremos 230 gênios, bem mais do que as vagas previstas. 

Logo, é absolutamente natural que a banca esteja muito mais preocupada em reprovar, mesmo os mais aptos, do que em aprovar apenas os melhores. Os melhores chegarão à reta final, mas serão tantos que, mesmo dentre eles, a banca terá de retirar alguns. E não pode fazê-lo ao acaso, por sorteio ou por qualquer outro critério incompatível com a Constituição Federal. A prova atinge um tal grau de dificuldade que não desmerece quem ficou pelo caminho e, ao mesmo tempo, torna único e singular o sabor da vitória. O pódio. O ouro. 

Assim como os atletas que visam ao ouro olímpico, a preparação do candidato deve começar cedo. Da mesma forma, quem treina para os 100m rasos não disputa salto com vara; quem se prepara para correr a maratona não sobe nas argolas. Noutras palavras: o candidato não deve esperar o fim da graduação para, só aí, começar a estudar com afinco e método. Tampouco pode atirar para todo lado, pois dificilmente acertará alguma coisa. Em ambos os aspectos as universidades andam muito mal: não estimulam o estudante a estudar ou a produzir conhecimento, nem o ajudam a conhecer o mercado de trabalho. O resultado é um desastre. O aluno termina o curso de Direito sem o conhecimento necessário das matérias exigidas nos certames (a prova da OAB aí incluída) e sem saber sequer como é a atividade jurídica de cada profissional da área. Uma pena. Seria essencial que o estudante fosse estimulado a conhecer as diversas carreiras jurídicas, para que desde logo se preparasse para a carreira escolhida. 

Nenhum atleta medalhado treinou com equipamentos de segunda. Assim também o candidato precisa ter em mãos o melhor material possível. Se até minha geração o problema era a escassez, hoje o que confunde é a amazônica quantidade de livros, artigos, vídeo aulas, cursos, coachings, apostilas, resumos, esquemas – a lista não tem fim. Como identificar o que é realmente bom? Dentre o que for selecionado como bom, o que é efetivamente útil para cada tipo de prova?
Ainda, muitas vezes o brilho do atleta é reflexo da excelência do treinador. Ter um treinamento metódico, rigoroso, adaptado às singularidades da prova, faz toda a diferença. O mesmo ocorre com o candidato a um cargo de elite na seara jurídica. É claro que, na hora do jogo, o treinador não entra em campo. Mas se for um bom treinador, entregará o atleta pronto para enfrentar os desafios.

Uma última semelhança chama atenção. O super atleta e o candidato à aprovação precisam renunciar. Abrir mão de fins de semana, de hobbies, do convívio familiar, de muitas de suas relações interpessoais. Não é fácil. Nenhuma renúncia é fácil. O que sempre digo aos alunos mais próximos é o seguinte: você terá de renunciar e não vou mentir, será muito difícil e minha tarefa não é deixar mais fácil, mas, sim, aumentar aos poucos o grau de dificuldade; mas ao final, vai valer a pena e você mesmo me dirá isso daqui há dois anos. Sempre vale a pena.

Ao longo de outros textos vou abordar cada um dos aspectos aqui apenas mencionados de relance. Findo o atual certame para a PGFN, inicia-se um novo ciclo olímpico. O Olimpo é logo ali.

Um comentário:

  1. Obrigado, Jurandi e Lucas, pelos excelentes depoimentos e texto motivacional.

    Parabéns, mais, pelas aprovações neste tão disputado concurso!

    Abraços,

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